A nova era da segurança no chão de fábrica

Em ambientes industriais e logísticos, o convívio entre empilhadeiras, tratores, AGVs e pedestres é inevitável — e, infelizmente, perigoso. As estatísticas não mentem: milhares de acidentes com empilhadeira e outros veículos industriais, como empilhadeiras, tratores de pátio, rebocadores e AGVs, muitos deles fatais, ocorrem anualmente no mundo, gerando não apenas perdas humanas, mas também altos custos operacionais e jurídicos relacionados à segurança do trabalho.

A boa notícia é que a Indústria 4.0 trouxe uma revolução também na segurança do trabalho intralogística. Soluções baseadas em sensores inteligentes, Inteligência Artificial e Internet das Coisas (IoT) estão se consolidando como uma barreira invisível — porém extremamente eficaz — na proteção de vidas. Bem-vindo à era da Segurança Intralogística 4.0.

Onde Estamos

Atualmente, muitas empresas já adotam práticas fundamentais na busca por ambientes mais seguros, como o Diálogo Diário de Segurança (DDS) — uma conversa rápida no início de cada turno para discutir riscos, medidas preventivas e reforçar a cultura de segurança. Junto a isso, aplicam a Observação de Práticas de Atividades (OPA), onde supervisores ou colegas observam tarefas sendo executadas, identificam desvios de segurança e reforçam boas práticas.

O uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) segue sendo obrigatório e essencial, complementando os controles administrativos e de engenharia. Além disso, há a adoção de tecnologias simples, porém muito eficazes, conhecidas como “low cost de alto impacto”. Exemplos incluem:

• Bluespot / Redspot: projeção de luz azul ou linhas vermelhas no chão para alertar pedestres e criar zonas visuais de segurança.
• Alarmes e Giroflex LED: alertas sonoros e visuais contínuos, simples e eficazes.
• Espelhos Convexos: melhoram a visão em esquinas e pontos cegos.
• Sinalização de Piso: faixas no chão delimitando rotas e zonas de segurança.

Essas soluções, combinadas com treinamentos, campanhas e reforços constantes, ajudam a criar uma camada robusta de proteção. Mas, não podemos parar aqui. A evolução deve continuar, incorporando cada vez mais tecnologias inteligentes e processos que garantam não apenas segurança, mas também eficiência operacional.

De olho no risco: como a tecnologia previne acidentes

Para além dos processos operacionais e das soluções tradicionais de segurança, a tecnologia tem se tornado uma aliada indispensável na prevenção de acidentes em ambientes logísticos e industriais. A seguir, conheça as principais tecnologias que ajudam a proteger pedestres e operadores, mitigando riscos e salvando vidas.

Ultra-Wideband (UWB)

Sensores UWB não enxergam — eles localizam com precisão de até 10 cm, funcionando com sinais de rádio de curtíssima duração. Eles criam zonas virtuais que detectam a aproximação entre veículos e pedestres equipados com tags, oferecendo desempenho excepcional mesmo em ambientes com muitos obstáculos físicos. UWB é altamente imune a interferências de estruturas metálicas e barreiras visuais, o que o torna uma das tecnologias mais confiáveis para segurança intralogística.

Entre os fornecedores de destaque estão o LogPyx Aura (Brasil) e ELOshield (Alemanha).

Visão Computacional

Sistemas de Visão Computacional, também conhecidos como Câmeras Inteligentes para Segurança, utilizam câmeras com Inteligência Artificial e sensores LiDAR 3D para detectar, em tempo real, a presença de pedestres na rota de empilhadeiras. A IA interpreta as imagens, diferencia humanos de objetos e ativa alertas imediatos. Entre as soluções que aplicam essa tecnologia, destacam-se o francês Blaxtair e o alemão SICK Safe Visionary2.

Vantagens:

• Não requer que o pedestre utilize dispositivos.
• Detecta qualquer pessoa, inclusive visitantes ou terceirizados sem crachá.

Limitações:

• Depende de boa visibilidade (luz, ângulo e ausência de obstruções).
• Sofre severamente com a interferência de obstáculos visuais como racks, pallets, colunas e paredes, além de poeira, neblina ou iluminação precária.
• Alcance muito limitado, o que restringe sua aplicação a curtos raios de ação, reduzindo sua eficácia em ambientes maiores ou mais complexos.

RFID (Identificação por Radiofrequência)

Sistemas baseados em RFID, especialmente na faixa UHF, são amplamente utilizados em controle de acesso, rastreamento de ativos e gestão de estoque. Sua aplicação na segurança intralogística se dá por meio da detecção de tags instaladas em pedestres ou veículos. No entanto, apresentam limitações importantes quando comparados a outras tecnologias mais precisas.

Vantagens:

• Amplamente difundido em aplicações logísticas.
• Funciona bem para controle de acesso e rastreamento simples.

Limitações:

• Custo significativamente mais alto considerando a relação entre desempenho e precisão quando comparado a UWB.
• Baixíssima precisão de localização, dificultando identificar a posição exata de pedestres ou veículos.
• Alcance extremamente limitado, geralmente entre 3 a 9 metros, o que reduz sua efetividade em grandes áreas.
• Maior suscetibilidade a interferências eletromagnéticas, especialmente em ambientes com alta densidade de metais.
• Dificuldade para criar zonas de alerta precisas, resultando em muitos falsos positivos ou negativos.
• Menor capacidade de escalabilidade em ambientes industriais complexos quando comparado ao UWB.
• Alta fragilidade e perda de calibração em ambientes com vibração intensa, como operações com empilhadeiras e veículos pesados.

Apesar dessas limitações, sistemas baseados em RFID continuam sendo uma opção para determinadas aplicações, especialmente quando combinados com outras tecnologias ou em ambientes mais simples.

LiDAR

LiDAR é uma tecnologia emergente na segurança intralogística, baseada em sensores ópticos que mapeiam o ambiente em 3D. Algumas empresas iniciam experimentos, mas sua aplicação ainda é limitada e incipiente para segurança robusta em ambientes industriais e intralogísticos.

Benefícios além da segurança

Além de reduzir riscos, essas tecnologias melhoram a eficiência e apoiam a sustentabilidade com.

• Redução de afastamentos e passivos trabalhistas.
• Diminuição de paradas operacionais.
• Melhoria na reputação ESG da empresa.
• Geração de dados para análise preditiva com suporte de Inteligência Artificial.

Acima de tudo, segurança não é só um protocolo ou uma exigência legal — é um pacto coletivo que afirma que cada pessoa importa. Empresas que priorizam a segurança estão, na prática, assumindo um compromisso moral com seus colaboradores e suas famílias. A cada barreira criada, a cada tecnologia implementada, a cada cultura de segurança fortalecida, não se protege apenas um ativo operacional: protege-se o que há de mais precioso e insubstituível — a vida humana.

Desafios e futuro da segurança intralogística

Os desafios estão mais na cultura das empresas do que na tecnologia. A resistência a investir em prevenção ainda é o maior obstáculo. O futuro aponta para ambientes industriais mais conectados, inteligentes e seguros, com UWB, visão computacional e Inteligência Artificial como pilares.

Mais importante do que qualquer tecnologia está a Cultura de Segurança, onde segurança é prioridade diária, praticada por todos. A Consciência de Segurança complementa esse pilar, permitindo que cada colaborador identifique riscos e aja preventivamente.

Sem cultura e consciência, nenhuma tecnologia garante segurança plena. Por isso, além de investir em sensores e IA, é indispensável cultivar comportamentos seguros, disciplina e comunicação constante sobre riscos.

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Escrito por: Eros Viggiano – Founder e CEO da LogPyx